JARDINS DOS IMPEACHMENTS QUE SE BIFURCAM, por Gregório Duvivier
1.
Convocam-se novas eleições. Lula se candidata. Ganha. O governo segue
corrupto e conservador, mas agora ganhou uma injeção de carisma.
Metáforas futebolísticas entretêm povo e imprensa. Em 2018 Lula é
reeleito e em 2022 Lula elege Dilma.
Ou 2. Convocam-se novas
eleições. Lula não se candidata. Aécio ganha. O governo não dura uma
semana: Anastasia, chefe da Casa Civil, está envolvido na Operação Lava
Jato, assim como toda a base governista. Convocam-se novas eleições. Lula se candidata. Ganha. Ver futuro 1.
Ou 3. Dilma renuncia. Michel Temer assume. O PMDB agora governa o
Brasil sem intermediários. Temer protagoniza a CPI do botox: descobre-se
que o preenchimento facial diário do presidente era pago com a verba da
saúde. O governo, apesar de mais corrupto do que o anterior, tem a
aprovação popular. O povo depôs Dilma. Está feliz. Ao fim do mandato,
Temer é eleito para a Academia Brasileira de Letras. E Lula se candidata
à presidência. Ver futuro 1.
Ou 4. Dilma renuncia, Michel Temer
também. O presidente do Câmara, Eduardo Cunha, é quem assume a
presidência e dá um golpe evangélico: muda o nome do país para Estado
Cristão Independente, nos EUA é conhecido como CrIsis. A corrupção
atinge níveis estratosféricos, mas o povo não tem conhecimento porque os
escândalos não passam na Record.
Ou 5: Eduardo Cunha, que tem seu
nome citado em 11 de cada dez escândalos de corrupção dos últimos 20
anos, não pode tomar posse. Renan Calheiros assume. Em quatro horas de
governo, Renan protagoniza nove escândalos de corrupção e é deposto com a
melhor média da história: 2,25 escândalos por hora. Entra para a
história como Renan, o breve.
Ou 6. O exército responde aos chamados
e dá um golpe de Estado. Na hora em que Bolsonaro vai tomar posse,
descobre-se que ele não sabe assinar o nome. Coronel Telhada assume em
seu lugar. A Rede Globo afirma que o Brasil finalmente retomou o milagre
do crescimento. A seleção canarinho ganha a Copa de 2018. Técnico:
Dunga. O povo vai às ruas festejar.
Ou 7. Graças à pressão popular,
todos os políticos envolvidos na Lava Jato vão parar na cadeia, assim
como os corruptos do setor privado. A pressão faz o Congresso (o que
sobrou dele) aprovar uma reforma que proíbe o financiamento privado de
campanha. Todos os políticos agora dispõem da mesma verba e do mesmo
tempo de televisão, logo os deputados mais esclarecidos vencem as
eleições. O voto agora é facultativo, a maconha é legalizada, o aborto é
oferecido pelo SUS e as igrejas finalmente passam a pagar impostos. O
Brasil parece até primeiro mundo.
(Esse último futuro é um exercício de ficção.)
Gregório Duvivier é ator e escritor, um dos criadores do portal de humor Porta dos Fundos.
[Publicado originalmente na Folha de SP de 23/03/2015]