Há um bom tempo me deparei com uma situação inusitada. Estava eu
conversando com dois médicos, estávamos em uma Universidade, em um ambienteacadêmico. Dirigia a palavra a um como doutor fulano, no qual
tinha doutorado, e ao outro simplesmente pelo seu nome. O outro, irritado por não chama-lo de doutor, me
cortou em uma frase perguntando o porquê de não usar doc. Eu, sem pensar, pedi desculpas e perguntei onde ele tinha feito o doutorado. Ele respondeu que não tinha feito mestrado ou doutorado, mas era doc por ser nedico, ficou um clima estranho no ar.
Pois bem, pensando
nisso conclui: doutor é quem tem doutorado. Uma coisa que me incomoda é essa
história de chamar médicos, advogados e associados de doutores. E desde quando
graduados são doutores? Não me venha querer que eu chame gente que só fez ler apostila
de faculdade de doutor.
Esse é o cúmulo da falta de bom senso. Aí tem gente
que argumenta: não, mas quantos anos um médico estuda? Seis! E ainda faz
residência! Por isso eles são doutores. Existe uma diferença entre um doutor e
um não doutor, que você aparenta desconhecer. É simples: um doutor produz conhecimento,
enquanto médicos e advogados apenas apreendem. É uma senhora diferença.
Lembro até da
época onde todos os professores eram mestres, mesmo sem mestrado, ainda bem que
isso passou.
Médico só é
doutor se tiver doutorado. Por que ele seria diferente de um graduado em
História, Letras, Filosofia? Os médicos ainda têm a desculpa de que estudaram por
mais tempo, mas e os advogados? Nem isso. Apenas acham que são doutores porque,
ora, quem tem muito dinheiro é doutor, não é?
Não acho que
devemos agora reverenciar pessoas que fizeram tese, ou chamá-los de doutores.
Entretanto, é preciso lembrar que eles sim são doutores, e o são porque defenderam
uma tese.
O título de doutor, pelo menos no caso dos médicos,
é um costume com origens na antiga formação médica. Não saberia precisar
exatamente, mas parece que até mais ou menos um século atrás os médicos
precisavam apresentar uma 'tese' para concluir o ensino superior. O
conhecimento daquela época - exíguo comparado ao que se acumulou até agora – talvez
dessa margem maior para a criação do conhecimento.
Por fim, acho bem
difícil discutir essa questão de costumes. Eu não vejo o porquê de chamar
médicos apenas graduados de doutores, entretanto acabo me referindo a eles
dessa maneira por força do hábito. Agora, sem dúvida, recusar-se a chamar de
doutor a quem não tem doutorado é uma atividade contestadora de hierarquias - e
isso é bom.