terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Heróis


Independente de nacionalidade, raça, credo ou opiniões políticas, praticamente todos os habitantes da Terra sabem quem (ou o quê) é o Super Homem (DC Comics). As vendas de suas primeiras HQ´s superaram todas as expectativas. Isso não foi por acaso. Na época, os EUA atravessavam um dos períodos mais difíceis de sua história. 
Os efeitos da quebra da bolsa de valores em 1929 ainda se faziam sentir, a crise econômica, o desemprego e o espectro da inevitável 2ª Grande Guerra se aproximando colocavam em xeque a ideologia americana. Em tal clima de insegurança, a atmosfera tornou-se ideal para o ressurgimento de um velho mito em roupagem nova, o mito do homem-deus, presente em inúmeras culturas, o herói que ergue-se para salvaguardar os meros mortais: Hércules, Sansão e muitos outros, simplificados na forma do Super Homem e da infinidade de super benfeitores que surgiram no seu rastro. Um verdadeiro universo de aventuras de moral simplista, cores primárias, o bem e o mal claramente definido, preto no branco, sem tons de cinza.
Em pouco tempo, o mito do super herói se tornou uma característica importante da cultura americana, um símbolo perfeito de como os EUA se enxergavam em sua relação com o resto do mundo. Lembando que ele próprio não era americano, e sim um alienigena. Não por acaso, alguns dos super heróis mais importantes têm seus uniformes baseados nas cores da bandeira americana (como o próprio Super Homem, Homem Aranha, a Mulher Maravilha e, óbvio, o Capitão América) deixando bem claro a ideia do país como um super herói, sábio e perfeito, responsável pela verdade e justiça de todo o planeta. Alias, existe Aranha azul e vermelha?
Essa iconografia ingênua, porém simbolicamente poderosa, incorporou-se fortemente ao imaginário não só dos EUA, mas de todos os países sob sua influência cultural. Política e entretenimento interligados na forma de uma ideologia moralista que sempre procurou justificar o imperialismo paternalista americano como uma simples questão de “zelar pelas nações fracas e oprimidas”. Algo que veem provavelmente da Guerra fria.
Os tempos mudam. Se na época da 2ª Grande Guerra era possível e confortável considerar os EUA como o herói da história, com o passar do tempo e a fundamentação do país como potência hegemônica tornou-se cada vez mais difícil fazer essa associação tão infantil. Entretanto essas mudanças não salvaram os quadrinhos de super heróis da séria crise criativa que assola o gênero atualmente. Ao longo do tempo, os super-heróis foram tendo a psiquê cada vez mais elaborada; mais críticos e complexos como: Wolverine, Spawn, Batman e outros, mas não conseguem tornar-se suficientemente interessantes para as novas gerações. Percebemos que, neste contexto eles surgem com uma psique de anti-herois como: Venon, Motoqueiro Fantasma e Deadpool. Mesmo o sucesso recente das adaptações para o cinema parece dever-se mais ao saudosismo do que um interesse real pelo gênero, uma vez que a bilheteria não necessariamente reverte-se para vendas de HQs. O fato é que a juventude americana até quer, mas não conseguem mais acreditar-nos formato dos primeiros super heróis. 


O que dizer então da política do governo americano de justificar a guerra com o mesmo velho discurso de “luta contra o mal”, “ajudar os inocentes”, “zelar pelo resto do mundo” que até o Super Homem teria vergonha de usar hoje em dia. O fato de até bem pouco tempo apenas os super-heróis americanos dominarem o mundo e agora haver um "buumm" de heróis japoneses e chineses, como é o caso dos mangás, também espelha uma mudança social: a proeminência econômica, social e cultural que o Japão vem conquistando internacionalmente. As séries de sucesso agora são Corenas, Espanholas ou Latinas. (Vide Round 6, La Casa de Papel, entre outras).
O próprio Capitão America, em seu primeiro Filme da nova leva (Capitão América: O Primeiro Vingador ), questiona o patriotismo americano e seu discurso.
Destaco que em X-men 3: O Confronto Final, esse tema do respeito às diferenças ganha ainda mais força. O preconceito aparece aí disfarçado, pois a temática gira em torna da "cura" que os cientistas do governo norte-americano encontraram para tornar os mutantes seres humanos comuns. Ali, nem todos os mutantes querem mais ter super poder, os poderem são questionados como não serem mais divinos e sim um castigo.


O conceito de "cura" é questionado por diversos segmentos da Psicanálise. A cura pressupõe uma doença, e não um modo de ser característico de um ser humano, com suas faltas, dores e imperfeições. 
A cura pressupõe um estado "normal", e afinal, o que seria a normalidade? Certo que os heróis não são os mesmos.

Desculpe qualquer erro no texto. Cordiais abraços. 

the last of us horse analisy